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Ferramenta de comunicação para socialização de experiências exitosas no programa GESTAR II. Onde professores formadores, cursistas e alunos poderão interagir. Compartilhando seus avanços e suas dificuldades no transcorrer do curso.
Gestar é um programa de formação continuada em serviço para professores de Português e Matemática que lecionam do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.

domingo, 29 de novembro de 2009

TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA

TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA

Segundo Chevallard (1991:31 apud PINHO ALVES, 2001), a transposição didática é entendida como um processo, no qual, “Um conteúdo do saber que foi designado como saber a ensinar sofre a partir daí, um conjunto de transformações adaptativas que vão torná-lo apto para ocupar um lugar entre os objetos de ensino. O trabalho que transforma um objeto do saber a ensinar em um objeto de ensino é denominado de Transposição Didática”.
Um grande desafio do professor é transformar um conhecimento científico em um conteúdo didático. De fato, teorias complexas, sem perder suas propriedades e características, precisam ser transformadas para serem assimiladas pelos alunos. Assim, a transposição didática pode ser concebida como um conjunto de ações transformadoras que tornam um saber sábio em saber ensinável. “Um processo transformador exige a determinação ou adoção de um ponto de partida ou ponto de referência. O ponto de referência ou o ‘saber de referência’ adotado é o saber produzido pelos cientistas, de acordo com as regras do estatuto da comunidade à qual pertence” (idem, p. 20).
Segundo Pinho Alves (2001) “o saber a ensinar é entendido como um novo saber, sua estrutura de origem está localizada fora do contexto acadêmico produtor do saber sábio. Dessa forma, para que na integração entre objetos de ensino não haja prevalência de conceitos sem significado, é recomendado o uso das diferentes fontes de referência, que inspiram e estabelecem a legitimação de um saber” (p. 23).
Transposição didática: por onde começar?" - parece ser esse o "pulo do gato" necessário a qualquer prática pedagógica que tenha como objetivo primordial a aprendizagem dos alunos.

A transposição depende de condições objetivas como um ambiente educativo vivo, que permita dúvidas, diálogo, trocas sem a presença do medo. Para tanto, é preciso que os professores desenvolvam as chamadas habilidades pedagógicas, que são necessárias para que transposição didática se efetive. A contextualização dos conteúdos se torna então "a arma mais poderosa a favor da transposição didática " e a linguagem pode servir como mediadora entre o conhecimento científico e o conhecimento escolar, cabendo ao professor proporcionar aos seus alunos uma aprendizagem sem sofrimento.
É grande a importância do planejamento para que a transposição didática possa ocorrer, pois é quando se "lança o olhar para os conteúdos que são definidos para aquele momento e traduz, em seguida, quais os pontos fortes, as prioridades e, com que objetivo lidar ao tratar com eles", é que se começa a garantir as condições necessárias para que todos aprendam.

OS NÍVEIS DO SABER
SABER SÁBIO

O Saber Sábio diz respeito ao saber original, aquele saber que é tomado como referência na definição da disciplinar escolar. Tal saber é aquele construindo no interior da comunidade cientifica. Esse saber também passa por transformações no interior dessa comunidade até tornar-se público, quando da publicação em revistas específicas das comunidades científicas (como por exemplo os artigos publicados na revista Physics Letters, sendo objeto de debates, revisões e controvérsias). Antes da publicação é possível acessar o processo de construção especifica da área científica em questão. Ao ser publicado, o conhecimento está limpo, depurado e em uma linguagem impessoal, que não retrata características de sua construção.
Esse patamar do saber é composto pelas pessoas responsáveis pela sua construção e desenvolvimento no interior das comunidades de pesquisas, isto é, os cientistas e pesquisadores de uma maneira geral.


SABER A ENSINAR

Esse é o segundo patamar do saber, quando de sua primeira transposição. Esse processo de transformar o saber sábio em saber a ensinar, corresponde a Transposição Didática Externa.
Ele se materializa na produção de livros didáticos, manuais de ensino para formação universitária, programas escolares que tem como alvo os alunos universitários e professores do E.M. Aqui, o conhecimento é reestruturado para uma linguagem mais simples se adequando ao ensino, sendo “desmontado” é reorganizado novamente de uma maneira lógica e atemporal.
Os autores de livros didáticos, os especialistas das disciplinas, os professores, a opinião pública em geral, através do poder político que influencia de alguma maneira na transformação do saber, são exemplos dos atores desse patamar do saber. É esse grupo que vai determinar quais as transformações e o que deverá ser transformado do saber sábio em saber a ensinar, gerando um novo saber que estará mais próximo da escola.
Nesse processo, ao ser transformado em saber a ensinar, o saber sofre uma
descontextualização, ocorrendo a perda do seu contexto original, através de um processo que Chevallard denomina de despersonalização. O saber passa por uma espécie de demolição para que depois volte a ser reconstruído, permitindo uma nova estruturação e organização. Assim, esse saber passa a ter uma configuração dogmática, ordenada, cumulativa e de certa maneira linearizada, tornando-se um saber com uma seqüência lógica. Com isso, ele perde o contexto de sua origem e passa a ter um novo contexto.
Uma outra função do saber a ensinar é fazer com que o saber perca qualquer ligação com o ambiente epistemológico no qual foi criado (saber sábio) através de um processo denominado de dessincretização, sendo reconstituído em um novo contexto epistemológico.


SABER ENSINADO

Essa é a segunda transposição do saber, que faz uma adaptação do saber ao tempo didático, ou seja, é nessa etapa que há transformação do conhecimento visando o seqüênciamento das aulas. Nesse papel de transformação do saber para sala de aula, aparece a figura do professor, que deve adequar o conhecimento trazido nos livros didáticos (saber a ensinar) para aquele que efetivamente vai para suas aulas e chegue até os alunos. O professor é o principal personagem dessa transposição, desempenhando papel central nesse nível do saber. Porém, não é o único, os alunos e a administração escolar (diretor, orientadores, pedagogas, etc...) também são os representantes desse patamar na noosfera. Esse processo de transformação do saber a ensinar em saber ensinado é denominado “Transposição Didática Interna” pois ocorre no interior do espaço escolar.
Esse é o saber que de fato chega ao aluno, depois de sofrer dois recortes. Primeiro, através da transposição externa, que transforma o saber original produzido pelo cientista em um saber com uma linguagem mais apropriada, o Saber a Ensinar; depois, a transposição interna, processada pelo professor ao preparar a sua aula, que transforma esse saber em um saber que seja melhor compreendido pelos alunos, saber ensinado. Nessa segunda transformação, o professor acaba sofrendo interferências de outros membros da noosfera, devido a interação que ocorre entre eles. Isso faz com que, outros interesses, além dos seus, sejam levados em consideração no processo. Devido a isso, forma-se um novo ambiente epistemológico, porém muito mais instável, se comparado com o do saber sábio e do saber a ensinar. “Cada nova transposição cria um quadro epistemológico novo (...) Dentro de cada quadro novo, é feito o possível para reduzir as dificuldades
de aprendizagem, dissolve-las. ”
Nessas transformações sofridas pelo saber, Martinand destaca que devem ser levadas em consideração o cotidiano dos alunos, para que dessa forma, o novo saber não esteja fora da realidade do aluno, tornando-se mais significativo e possivelmente melhorando a compreensão dele.

COMO O SABER SOBREVIVE

Como ferramenta de análise, a Transposição Didática consegue refazer os caminhos percorridos pelo saber, desde sua origem (Saber Sábio) até chegar a sala de aula (Saber Ensinado). Deixando para noosfera o papel da seleção de quais serão os saberes do saber sábio que passarão pelas transformações para chegar à sala de aula.
Porém para chegar ao professor, o saber tem antes que sobreviver no nível do Saber a Ensinar. Para isso, Chevallard destaca alguns indícios de características relevantes que o saber deve apresentar para permanecer no saber a ensinar. Essas características são: O saber tem que ser consensual. O saber que vai chegar a sala de aula não pode apresentar dúvidas sobre seu status de “verdade”, mesmo que seja momentâneo. Isso para que o professor não tenha medo de estar ensinando algo que a própria ciência não sabe se é verdade e para que o aluno não tenha dúvidas sobre o que está aprendendo é correto ou não. “O sistema de ensino parece não saber como avaliar aquilo que o aluno deve saber daquilo que a ciência ainda não sabe.”
O saber transposto deve buscar uma atualização. Nesse caso a atualização se apresenta de duas maneiras: Atualidade moral, é a atualidade que está ligada ao currículo, mostrando se aquele saber que será transposto tem importância reconhecida pela sociedade e pelos pais, não se tornando um saber obsoleto que pode ser ensinado pelos pais. Ou seja, o saber que será transposto deve estar eqüidistante da saber dos cientistas e o saber dos pais. Atualidade biológica, essa está ligada diretamente a sua área de conhecimento. O saber transposto deve estar de acordo com a ciência vigente, deixando os conceitos que foram superados para serem ensinados somente em uma perspectiva histórica.
O saber tem que ser operacional. O saber que vai para sala de aula tem que ser capaz de gerar uma seqüência com atividades, exercícios, tarefas ou algum tipo de trabalho que tenha como objetivo a conceituação do saber. Essa é uma característica importante, porque está ligada diretamente a avaliação. Saberes que não apresentam nenhum tipo de atividade que possa levar a uma avaliação de seu aprendizado está fadado a não permanecer na escola.
O saber deve permite que haja uma criatividade didática. Essa característica implica na criação de atividades de uso exclusivo da escola, ou seja, objetos que não possuem similares no Saber Sábio, tornando-se criações que tem existência garantida somente na sala de aula. Como é o caso de atividades que envolvam associação de resistores e escalas termométricas.
O saber tem que ser terapêutico. O saber tem que adaptar ao sistema didático, ou seja, só permanece na escola aquele saber que já verificou que dá certo, dentro das características ressaltadas, aqueles que não dão ficam de fora.



4 - AS REGRAS DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA

Analisando o processo da Transposição Didática, Astolfi (1997) pode estipular algumas regras para descrever o processo de transformação do Saber Sábio em Saber a Ensinar. Estando diretamente ligadas às características relevantes estipuladas por Chevallard:

REGRA I - MODERNIZAR O SABER ESCOLAR

A ciência, nos últimos anos, vem produzido conhecimento cada vez mais rápido que vêem chegando cada vez mais depressa para a população em geral, em forma de novos aparelhos e dispositivos mais modernos. Esse desenvolvimento deveria ser acompanhado pelos livros didáticos, com edições que trouxessem conteúdos mais modernos e contemporâneos, fazendo jus ao alto desenvolvimento tecnológico e, mesmo aqueles conhecimentos que não têm um caráter prático, podendo contribuir para uma visão mais correta da ciência moderna e dando opções aos jovens a acessarem a natureza com uma nova visão (de uma maneira nova). De certa forma, é uma coisa que já acontece, porém esses temas são tratados de forma superficial, ficando apenas como tópicos que permeiam a física clássica tradicional dos livros didáticos ou descritos brevemente nos últimos capítulos dos livros didáticos, nos mesmos moldes dos já existentes.
“A modernização dos saberes escolares é uma necessidade, pois legitima o programa da disciplina, garantindo seu lugar no currículo.”
“Em diferentes disciplinas, parece ser necessário aos especialistas colocar em dia os conteúdos de ensino para aproximá-los dos conhecimentos acadêmicos. Neste caso, freqüentemente criam-se comissões que tomam por base vários trabalhos e proposições anteriores difundidas na noosfera”. (ASTOLFI, 1997, p.182)

REGRA II – ATUALIZAR O SABER ESCOLAR

O saber tem que ser renovado, atualizado, porque esse saber tratado no sistema didático envelhece, “tornando-se velho em relação a sociedade”, se afastando do núcleo de pesquisa do saber sábio (isso faz com esse saber não seja mais reconhecido como atual pelo saber original) e ao ser modificado para toda a sociedade, aproxima-se do saber dos pais (isso banaliza o saber, porque o professor estaria ensinado algo diluído na cultura cotidiana). Esse envelhecimento, torna o sistema didático obsoleto do ponto de vista da sociedade, visto que os próprios pais poderiam transmitir esse conhecimento. Isso gera uma incompatibilidade do sistema didático com seu entorno.
Para retomar a compatibilidade é necessária a instauração de um corrente proveniente do Saber Sábio que traga um saber ainda não difundido amplamente.
“Alguns objetos do saber, com o passar do tempo, se agregam à cultura geral que, de certa forma, passa a dispensar o formalismo escolar. Outros perdem o significado por razões extracurriculares e/ou escolares (...) Regra que poderia ser entendida como a “luta contra obsolência didática””. (PINHO ALVES, 2000, p.236)

REGRA III - ARTICULAR O SABER NOVO COM O ANTIGO

O saber novo se articula melhor quando apresentado para explicar um saber antigo, mas não de uma maneira radical, tentando refutar ou negar o saber anterior. Isso poderia gerar um risco de o aluno ver o novo saber escolar como algo instável, acreditando que ele que sempre será substituído por um mais novo que virá em seguida. Isso poderá gerar um estado de “questionamento” permanente, gerando dificuldades na condução do processo de ensino.
“Entre os vários objetos do saber sábio suscetível a modernização e para diminuir à obsolescência, alguns são escolhidos porque permitem uma articulação mais satisfatória entre o novo que se tenta introduzir, e o velho já provado no sistema e do qual será necessário conservar alguns elementos reorganizados.” (ASTOLFI, 1997, p.183)

REGRA IV - TRANSFORMAR UM SABER EM EXERCÍCIOS E PROBLEMAS

O saber sábio que trouxer maiores possibilidades de exercícios e atividades, certamente será mais bem aceito pelo sistema didático. Isso por que os exercícios e atividades fazem parte preponderante no processo de avaliação. Assim, esses conteúdos terão uma vantagem, ou melhor, uma preferência no processo da Transposição Didática. “Certamente esta é a regra que reflete o maior grau de importância no processo transformador do saber, ao criar uma ligação muito estreita com o processo de avaliação. (...) A aquisição e domínio deste saber, por parte do estudante, deve ser confirmada pela sua habilidade na solução de exercícios e problemas, cuja resposta envolve um resultado numérico do tipo certo ou errado” .
“A seleção vai ocorrer a partir da facilidade particular de certos conteúdos para gerar um número grande de exercícios ou atividades didáticas, até mesmo quando estes são nitidamente descontextualizados quanto a sua função, em relação ao conceito original.” (ASTOLFI, 1997, p.183)

REGRA V - TORNAR UM CONCEITO MAIS COMPREENSÍVEL

Na transformação do saber sábio em Saber a Ensinar, há sempre uma perda em sua linguagem original e passa a ser escrito em uma linguagem mais próxima das pessoas que não fazem parte da comunidade que compõe o saber sábio. Isso faz com que esse saber se torne mais próximo dos alunos e desta forma, sua compreensão poderá ser facilitada, tendo como objetivo a melhoria do aprendizado desse saber por parte do aluno.
“Neste processo são criados objetos didáticos que permitem inserir elementos novos e facilitadores do aprendizado, assim como utilizar uma matemática adequada para aqueles que estão sendo iniciados neste tipo de saber”.



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